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Benefícios do acesso aberto à ciência e às publicações científicas

Embora a adoção da publicação em Acesso Aberto (Open Access – OA) carregue consigo algumas controvérsias e certas reservas, o número de publicações em acesso aberto tem crescido significativamente nos últimos anos.

De acordo com estudo publicado em 2024 e intitulado The oligopoly of open access publishing, os números mostram que a porcentagem de artigos OA tem aumentado ao longo dos anos, de 10,81% em 2008 para 47,77% em 2020. A porcentagem de artigos OA Gold também teve um acréscimo tanto no mercado OA geral (indexado pela Dimensions) quanto no mercado OA de ponta (indexado pela Web of Science), aumentando respectivamente de 73,04% para 85,31% e de 69,98% para 78,21%.

Ainda de acordo com esse estudo, à medida que o mercado de publicação OA continua a se expandir, o número de editoras OA aumentou drasticamente de 1.368 em 2008 para 8.442 em 2020.

As restrições e reservas recaem especialmente sobre os custos relacionados ao pagamento de Taxas de Processamento de Artigos (Article Processing Charges APCs) que podem criar um ônus financeiro adicional para acadêmicos, particularmente aqueles de países pobres ou em desenvolvimento.

A despeito disso, a publicação em acesso aberto é frequentemente vista como uma solução promissora para o futuro da publicação acadêmica e da ciência, pois tem o potencial de reduzir as desigualdades globais no acesso à literatura científica ao remover paywalls.

Além dessa premissa, quais são os reais benefícios da publicação em acesso aberto?

Maior visibilidade e impacto parecem ser os principais benefícios da publicação em acesso aberto

Visibilidade se refere à probabilidade de uma publicação ser notada e disseminada; impacto se refere à recepção de longo prazo da publicação e à incorporação dos resultados em trabalhos de pesquisa posteriores e debate acadêmico. Juntos, visibilidade e impacto contribuem para a reputação dos autores e suas instituições. Estudos mostram que o conteúdo de acesso aberto atrai mais atenção do que o conteúdo de acesso não aberto e há benefícios associados a esse fato.

Maior diversidade de citações e uso
Diversos trabalhos de pesquisa mostraram que os artigos de acesso aberto são vistos com mais frequência do que artigos que estão disponíveis apenas para assinantes e são citados com maior frequência.

Um outro estudo publicado na revista Scientometrics em 2024 intitulado Open access research outputs receive more diverse citations analisou dados bibliográficos em larga escala de 2010 a 2019 e encontrou uma associação robusta entre acesso aberto e maior diversidade de fontes de citação por instituições, países, sub-regiões, regiões e campos de pesquisa, em resultados com contagens de citações altas e médias-baixas. O acesso aberto por meio de repositórios disciplinares ou institucionais mostrou um efeito mais forte do que o acesso aberto por meio de plataformas de editoras.

Este estudo adiciona uma nova perspectiva à nossa compreensão de como as citações podem ser usadas para explorar os efeitos do acesso aberto. Também fornece novas evidências em escala global dos benefícios do acesso aberto como um mecanismo para ampliar o uso da pesquisa e aumentar a diversidade das comunidades que se beneficiam dela.

Maior envolvimento do público
O impacto de tornar os trabalhos de pesquisa livremente acessíveis a partir do momento da publicação pode ser surpreendente, particularmente para pesquisas em que há um forte interesse público pela ciência.

Uma pesquisa publicada na revista Scientometrics em 2024 intitulada Open access improves the dissemination of science: insights from Wikipedia demonstra que o acesso aberto impulsiona a disseminação da ciência. O movimento de acesso aberto visa tornar o conhecimento científico abertamente disponível, e podemos intuitivamente esperar que o acesso aberto ajude a promover a missão da Wikipédia. As descobertas revelam que a Wikipédia depende de artigos de acesso aberto em uma taxa geral mais alta (44,1%) em comparação com sua disponibilidade na Web of Science (23,6%) e OpenAlex (22,6%). Além disso, tanto a acessibilidade (status de acesso aberto) quanto o impacto acadêmico (contagem de citações) aumentam significativamente a probabilidade de um artigo ser citado na Wikipédia. Especificamente, artigos de acesso aberto são extensivamente e cada vez mais citados na Wikipédia.

Periodicamente novos periódicos de acesso aberto de alta qualidade são lançados por editoras em parceria com as principais associações. Cada artigo de pesquisa publicado nessas revistas inclui um ‘Resumo Editorial’: uma visão clara em inglês das principais descobertas do artigo, apresentadas em um formato breve e de fácil compreensão para pesquisadores de outras especialidades ou para o público interessado.

Documentos de acesso aberto aceleram o ritmo da pesquisa científica

Impacto mais rápido
Ao abrir a pesquisa com licenças permissivas, como o Creative Commons BY, os pesquisadores têm o poder de desenvolver rapidamente as pesquisas existentes. Com o acesso aberto os pesquisadores podem descobrir e adquirir materiais científicos e conteúdo relevante em um ritmo sem precedentes e sem despesas proibitivas.

Repositórios de preprints como o arXiv disponibilizam descobertas de pesquisa antes da revisão por pares e da publicação formal. Dessa forma, os resultados da pesquisa entram em circulação mais rapidamente e podem ser discutidos e avaliados. Os trabalhos em acesso aberto estão disponíveis para todos, independentemente de recursos financeiros e local de pesquisa, porque, diferentemente dos trabalhos em acesso fechado , eles podem ser usados ​​gratuitamente. Portanto, o acesso aberto pode contribuir para reduzir a exclusão digital na pesquisa.

Colaboração mais ampla
Há uma relação positiva entre colaboração e publicação em acesso aberto.

Um estudo de 2020 publicado pela MDPI, editora de revistas de acesso aberto, e intitulado International Collaboration in Open Access Publications: How Income Shapes International Collaboration demonstrou que a esmagadora maioria das nações forma colaborações internacionais com mais frequência com nações de alta renda. Considerando todos os vários custos de publicação, por exemplo, custos financeiros e trabalhistas, e considerando as taxas de publicação, a economia sugere que pesquisadores de nações de baixa renda teriam mais a se beneficiar da formação de colaborações internacionais. As análises confirmaram que esse é realmente o caso.

Usando uma série de testes de Kolmogorov–Smirnov em pares, os autores confirmaram que não apenas os níveis de renda nacional influenciam na forma como os pesquisadores formam colaborações internacionais, mas que pesquisadores em nações de baixa renda exibem comportamento significativamente diferente daquele de pesquisadores em nações relativamente mais ricas. Especificamente, pesquisadores em nações de baixa renda têm muito mais probabilidade de formar colaborações internacionais. Isso, no entanto, não é o mesmo que dizer que nações de baixa renda colaboram com mais frequência do que outras nações.

Aumento da conversação interdisciplinar e multidisciplinar
Publicações interdisciplinares e multidisplinares promovem um maior diálogo entre os limites da disciplina, ajudando a encontrar novas abordagens para os problemas tradicionais. Publicações de acesso aberto promovem a construção de redes globais de pesquisa. Além disso, a disponibilidade gratuita e a possibilidade de reutilização de dados científicos disponíveis abertamente permitem que pessoas em países mais pobres acessem e usem informações científicas relevantes.

Revistas de acesso aberto que cruzam várias disciplinas como as que constam do Journal Ranking on Multidisciplinary of Scimago only Open Access e outras como a Nature Communications ,Scientific Reports , Scientific Data e Palgrave Communications, estão ajudando os pesquisadores a se interconectarem, promovendo uma visão interdisciplinar e multidisciplinar da Ciência, ampliando o alcance e a visibilidade das pesquisas.

O acesso aberto é cada vez mais exigido pelos financiadores em todo o mundo
Cada vez mais, os financiadores da pesquisa acadêmica (órgãos de financiamento ou instituições) estão exigindo que seus bolsistas ou beneficiários de recursos de apoio à pesquisa disponibilizem ao público artigos relacionados à sua pesquisa, gratuitos e sem restrições de reutilização.

Quando os principais financiadores públicos de pesquisa passaram a exigir que os resultados das pesquisas financiadas fossem disponibilizados publicamente, houve um aumento significativo no conteúdo de acesso aberto com iniciativas importantes, incluindo Planos na Europa e do OSTP nos EUA. No Brasil, órgãos financiadores como a Fapesp também adotaram essa política. Muitas organizações de financiamento de pesquisas agora obrigam os beneficiários de bolsas a fornecer acesso aberto aos resultados publicados das pesquisas que financiam e, em alguns casos, estabelecem diretrizes muito concretas.

De fato, a partir de 2021, as publicações acadêmicas resultantes de pesquisas financiadas por organizações participantes do cOAlition S devem ser publicadas em periódicos de acesso aberto ou em plataformas de acesso aberto, ou mesmo disponibilizadas imediatamente sem embargo por meio de repositórios de acesso aberto. Membros do cOAlition S tais como a Comissão Europeia, o Fundo Austríaco para a Ciência (FWF), a Agência Nacional de Pesquisa (ANR), o Conselho de Pesquisa da Noruega (RCN) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotam essa política e diversos financiadores fornecem aos pesquisadores suporte financeiro para pagamento de custos de publicação que podem surgir quando obras são publicadas em acesso aberto.

Democratização do Acesso à Ciência e Transparência
Pense na imensa quantidade de pesquisadores que têm dificuldade de acessar conteúdo científico de qualidade por conta da falta de recursos financeiros. Cientistas de países pobres ou de países em desenvolvimento ainda enfrentam grandes obstáculos para acessar artigos de qualidade. Com o avanço do modelo de acesso aberto, esses cientistas têm cada vez mais facilidade de acessar conteúdos abertos na Internet sem precisar pagar taxas ou assinaturas de revistas.

O acesso aberto também promove a transparência na ciência, tornando os resultados de pesquisa mais prontamente disponíveis não apenas para outros pesquisadores, mas também para jornalistas, pacientes e formuladores de políticas. Isso ajuda a garantir que o público tenha acesso aos últimos desenvolvimentos científicos.

A preservação é mais longa quando os documentos estão em acesso aberto
Quando os documentos são arquivados em Repositórios, sua preservação a longo prazo é garantida. O acesso a longo prazo ao texto é garantido tecnicamente pela gestão institucional e não individual do pesquisador e à atribuição de um identificador persistente (por exemplo, DOI) que é independente do local de armazenamento concreto do documento. O armazenamento paralelo em Repositórios de acesso aberto para além dos sites pessoais e das próprias editoras ajuda a garantir a preservação e a acessibilidade a longo prazo.

== REFERÊNCIAS ==

CARY, M.; ROCKWELL, T. International Collaboration in Open Access Publications: How Income Shapes International Collaboration. Publications v. 8, n. 13, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.3390/publications8010013 Acesso em 25 de março de 2025.

HUANG, CK.; NEYLON, C.; MONTGOMERY, L. Open access research outputs receive more diverse citations. Scientometrics, v. 129, p. 825–845, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11192-023-04894-0 Acesso em: 25 de março de 2025.

OPEN ACCESS NETWORK. Information. Disponível em: https://open-access.network/en/information Acesso em: 26 de março de 2025.

SHU, F., LARIVIÈRE, V. The oligopoly of open access publishing. Scientometrics, v. 129, p. 519–536, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11192-023-04876-2 Acesso em: 25 de março de 2025.

SPRINGER. Benefits of open research. s.d. Disponível em: https://www.springernature.com/gp/open-science/about/benefits  Acesso em: 25 de março de 2025.

YANG, P., SHOAIB, A., WEST, R. Open access improves the dissemination of science: insights from Wikipedia. Scientometrics, v. 129, p. 7083–7106, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11192-024-05163-4 Acesso em: 25 de março de 2025.

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